Sossego e desassossego: o paradoxo do tempo vivido

  • Irene Borges-Duarte Universidade de Évora

Abstract

Sossego e desassossego são termos que expressam formas de fazer a experiência do tempo, para além de poderem ser descritas psicologicamente como estados emocionais. Partindo da abordagem de três situações existenciais – de stress, de tédio e de gozo do momento presente – procura-se, neste trabalho, evidenciar fenomenologicamente os elementos estruturais característicos do encontro existencial com o tempo, tanto no exercício de ser-no-mundo, como no ser ou não ser senhor de si nesse exercício e na sua potencial patologia. Neste contexto, que encontra o seu principal apoio na análise heideggeriana do ser-em, sossego e desassossego revelam o seu carácter paradoxal, na sua mútua pertença e na tensão que supõem, em cada caso. Ao mesmo tempo, com essa base, abre-se a possibilidade de compreender a serenidade em correlação com o tempo enquanto duração.


Abstract
Quiet and Disquiet: The Paradox of Lived Time
‘Quiet’ and ‘Disquiet’ are terms which express ways of accounting for time-experience, besides being equally open for a rendering as emotional states. Starting from three existential moods – stress, boredom, and the joy of the present moment – this inquiry aims to put into evidence the structuring features of our existential experience of time itself, both in the daily exercise of our being-in-the-world, and at the level of our being or not being in possession of oneself in such exercise and in its potentially pathological derivates. In this context, which finds its theoretical roots in the Heideggerian analysis of the being-in, quiet and disquiet reveal their paradoxical character in terms of the mutual belonging and tension each of them, respectively, presupposes. At the same time, and with such a basis, we will find the way of understanding ‘quiet’ as a correlate of time as a ‘duration’.

References

BERGSON, H. (2009). La pensée et le mouvant [1938]. Paris: Presses Universitaires de France.
— (2007). Essai sur les données immédiates de la conscience [1889]. Ed. Arnaud Bouaniche. Paris, PUF.
BORGES-DUARTE, I. (2006). «O tédio como experiência ontológica. Aspectos da Daseinsanalyse heideggeriana». In: M.J. Cantista (Org.), Subjectividade e Racionalidade. Uma abordagem fenomenológico-hermenêutica. Porto: Campo das Letras, 297-323.
FENICHEL, O. (1985). «Zur Psychologie der Langeweile». In: Aufsätze, vol. I. Frankfurt-Berlin-Wien: Ullstein, 297-308.
— (1934). «Zur Psychologie der Langeweile». In: Imago, 20 (3), 270-281.
FREUDENBERGER, H. J. (1974). «Staff Burn-Out». Journal of Social Issues, 30, 159-165.
GIL, J. (2013). Cansaço, Tédio, Desassossego. Lisboa: Relógio d’Água.
HAN, B.-C. (2016). O aroma do tempo. Um ensaio filosófico sobre a arte da demora. Lisboa: Relógio d’Água.
HEIDEGGER, M. (2017). Zollikoner Seminare. Gesamtausgabe. Bd. 89. Ed. de P. Trawny. Frankfurt: Klostermann.
— (1995). Feldweg-Gespräche. Gesamtausgabe. Bd. 77. Ed. de Ingrid Schüssler. Frankfurt: Klostermann.
— (1994). Zollikoner Seminare. Protokolle – Zwiegespräche – Briefe. Ed. de M. Boss. Frankfurt: Klostermann.
— (1983). Die Grundbegriffe der Metaphysik. Welt, Endlichkeit, Einsamkeit. Gesamtausgabe. Bd. 29/30. Ed. F.-W. von Herrmann. Frankfurt: Klostermann.
— (1977). Sein und Zeit. Gesamtausgabe. Bd. 2. Ed. F.-W. von Herrmann Frankfurt: Klostermann.
MERLEAU-PONTY, M. (1945). Phénoménologie de la Perception. Paris: Gallimard.
PESSOA, F. (2001). Livro do Desassossego. Ed. R. Zenith. Lisboa: Assírio e Alvim.
— (1994). Odes de Ricardo Reis [1946]. Notas de J. Gaspar Simões e Luiz de Montalvor. Lisboa: Ática.
PÓ, G. (2015). A fenomenologia do tédio no Livro do Desassossego: de Martin Heidegger a Fernando Pessoa. Évora: Dissertação de doutoramento, Departamento de Filosofia, Universidade de Évora [open access: Repositório da Universidade de Évora].
PRADO, Mª de Fátima (2003). «Estresse do ponto de vista da Daseinsanalyse». Daseinsanalyse – Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyse, 12, 69-83.
RICOEUR, P. (1992). «Merleau-Ponty, par-delà Husserl et Heidegger (1989)». In: Lectures 2. La contrée des Philosophes. Paris: Seuil, 165-172.
SPANOUDIS, S. (1997). «Neurose do tédio». Daseinsanalyse – Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyse, 1(2/4), 50-53.
Published
2019-02-05
How to Cite
BORGES-DUARTE, Irene. Sossego e desassossego: o paradoxo do tempo vivido. Phainomenon, [S.l.], n. 28, p. 29-48, feb. 2019. ISSN 2183-0142. Available at: <http://www.phainomenon-journal.pt/index.php/phainomenon/article/view/376>. Date accessed: 28 mar. 2024.
Section
Articles